quinta-feira, 25 de maio de 2017

Jardim abandonado

Foram-se as violetas.
Foi-se também a rosa.
Por último, foram-se ainda os crisântemos.
O jardim ficou deserto, devastado pela tempestade.
O vento semeou e a chuva, devagar, muito devagar, refrescou a terra.
O novo broto é ainda frágil, débil e disforme,
mas traz na seiva a esperança de que um dia
uma nova flor há de surgir
e o jardim será muito mais perfumado
que ao tempo das violetas, da rosa e dos crisântemos.
  Flavio Quintale (25/05/2017)

quinta-feira, 2 de março de 2017

O discípulo e o mestre


“Mestre. Dizes que a amizade é a forma de amor mais completa. Mas qual é o fundamento da amizade?”
“O valor. Dou um exemplo. Se cultura e conhecimento não são valores essências para ti, tu jamais admirarás uma pessoa com cultura e conhecimento. Sua companhia será algo insuportável. Evite problemas. Procure alguém com outros valores. Os mesmos que os teus. A chance de dar certo é maior. O amor a essa amizade tenderá sempre a crescer”. 

“Por isso que há cães e gatos que não se entendem e cães e gatos que se entendem”
“Exato. A amizade não consiste em ser cão ou ser gato. Mas em compartilhar valores”.

“Não se podem confundir valores com interesses?”
“Sim. Nesse caso não se trata de amizade”.

Por Flavio Quintale

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A minha ideia de “Epidemia”


                Depois de trabalhar em várias versões do texto, cheguei a essa versão de Epidemia publicada em janeiro de 2017 em versão e-book pela Amazon. O material contido nessa narrativa seria o suficiente para um romance de... digamos... umas quinhentas páginas. Mas não acho que encontraria leitores contemporâneos em número suficiente para encarar tal empreitada. Não me lamento. Apenas constato. Não sou artista de televisão, não saio por nenhuma grande editora, não ganhei nenhum prêmio literário importante, não pertenço a nenhuma academia literária. Tenho apenas meus seguidores, meio anônimos, das redes sociais. Essa foi uma das razões que me fez optar por condensar essas centenas de páginas imaginárias em pouco mais de uma dezena delas, como se cada parágrafo representasse um capítulo e, uma página, mais de cinquenta. O resultado é essa Epidemia, microromance para o leitor contemporâneo, com conteúdo suficiente para leitores de todos os tempos. Se é que existirão todos os tempos e, o pior, leitores, e pior ainda, leitor dessa mínimanovela.
             Epidemia foi imaginada como um compêndio de suspense, mistério, tragédia, símbolos, discussões teológicas, filosóficas, históricas, artísticas e escatológicas. Brevidade, densidade, comicidade e enigma. Pode-se ler em uma sentada, se quiser. Pode-se também se sentar longamente, parágrafo por parágrafo, palavra por palavra, durante horas, dias, meses e anos. Epidemia dá liberdade completa ao leitor de compreendê-la como quiser, em meia-hora ou em meia vida. Epidemia convida todo mundo. Põe na roda a carola de igreja e o teólogo especialista no Apocalipse; o fissurado em quadrinhos e o apreciador de Dostoievski; o curioso do jornal de bairro e o leitor de Albert Camus; o aluno da escola técnica e o doutor em filosofia; o biomédico e o amante de pintura renascentista; o ateu mais convicto e o religioso mais supersticioso. Todo mundo poderá encontrar o seu parágrafo e a sua palavra na história.
              Agora me despeço. Falar pouco é falar demais. Se eu encontrar alguns míseros leitores nos próximos séculos, já me darei por satisfeito. Tomara, porém, que eles apareçam antes, nas próximas décadas. Mas se não for possível, que surjam antes do triunfo da epidemia devastadora.
 
por Flavio Quintale
Link para baixar "Epidemia":